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ENTREVISTA COM CARLINHOS VERGUEIRO
(por Geraldo Medeiros Jr e Klaudia Alvarez)
 
A Página dos Amigos de Fagner inaugurou, com Fausto Nilo, e em seguida com Izaíra Silvino,  a sua sessão de entrevistas e devido a boa repercussão que teve entre os visitantes da página, resolvemos continuar com as entrevistas
de forma regular e para tanto estaremos entrevistando pessoas da vida
artística que, de uma forma ou de outra, tem alguma ligação com a carreira
de Raimundo Fagner e que também são seus amigos. 
 
Nosso entrevistado agora é o cantor, compositor e músico de formação
clássica CARLINHOS VERGUEIRO.

Contemporâneo de Fagner, Carlinhos teve seu primeiro disco comercial lançado
em 1973, mesmo ano em que saiu o primeiro disco de  Fagner, Manera Fru Fru
Manera.  Poucas pessoas sabem, mas Carlinhos é paulista e não carioca.
Ficou conhecido do público ao vencer o Festival Abertura promovido pela TV
Globo em 1975.  Foi neste festival que grandes nomes da MPB se revelaram
como Alceu Valença, Djavan, etc.  Parceiro de  grandes nomes de nossa música
como Sueli Costa, Chico Buarque, Vinícius de Moraes , Adoniran Barbosa ,
Toquinho, Paulinho Tapajós, Carlinhos Vergueiro começou a compor em 1972.
 
O gosto pelo futebol e as peladas no campo de Chico Buarque também são outro
traço de união entre os dois grandes nomes da MPB e para completar,
Carlinhos está lançando agora o CD POR TODOS OS SONHOS, em que convidou
Fagner para cantar a canção MOTIVOS BANAIS.  
A novidade é que Fagner canta sozinho
a canção e não dividindo o vocal com Carlinhos.

Vamos então ao nosso papo com esse grande compositor da MPB:
Carlinhos Vergueiro:

 
1. Neste ano o Nordeste brasileiro vive novamente o suplício de enchentes,
responsáveis por diversas mortes, desabrigados, doenças, entre outros graves
problemas. Em 1985, você participou de um projeto, intitulado Nordeste Já,
que reuniu grandes nomes da nossa música para arrecadarem fundos para os
desabrigados do Nordeste. Como você viu aquele movimento? Quase vinte anos
depois, qual a avaliação que você faz da importância daquele projeto?
 
R- Projetos como este são sempre importantes por que além de ajudar pessoas
desabrigadas, necessitadas, chamam a atenção para problemas antigos que já
deveriam ter sido vistos com mais carinho pelas autoridades competentes. É
pena que 20 anos depois não tenha havido progressos neste sentido. Tenho
esperança no governo Lula, e espero que ele como nordestino que é, entenda
que é fundamental que se destine verbas para a população estar mais
preparada para enfrentar o suplicio das enchentes.

2. Você produziu conjuntamente com Cristina Buarque um excepcional
disco-tributo a Nelson Cavaquinho. O disco conta com a presença do próprio
Nelson, além de presenças de Chico Buarque, Paulinho da Viola, João Bosco,
Beth Carvalho, Toquinho, entre outros. Como foi pouco antes da morte do
Nelson, tratou-se de oferecer as flores em vida, como ele defendia em uma
das músicas mais famosas. O que você tem a dizer sobre tal projeto.
 
R- Foi um projeto do qual eu me orgulho muito. Eu estava fazendo uns shows
com o Nélson, e ele manifestou o desejo de gravar um disco novo. Eu comecei
a tentar realizar este desejo. Através do Aluizio Falcão, na época diretor
do Selo Eldorado, eu consegui. Falei com a Cristina, profunda conhecedora da
obra do Nélson, e de quebra tivemos a valiosissima contribuição do Mauro
Duarte, outro grande compositor brasileiro. O Nélson ficou muito
entusiasmado, nos mostrou muitas músicas (que a Cristina registrava num
gravador), ficamos com um material que dava para fazer vários discos.
Escolhemos em comum acordo os convidados, e modéstia à parte, saiu um belo
trabalho. 
O disco teve um lançamento na Quadra da Mangueira, se não me falha
a memória, no dia 31 de março de 1985, com uma grande festa.
Paralelamente ao disco, eu propus ao cineasta Ruy Solberg um documentário
sobre o Nélson. Ele topou e fez o "Nélson de copo e alma", que foi lançado
no Parque Lage (RJ), com direito a show do Nélson com a participação dos
convidados do disco. Eu considero o Nélson, o Garrincha da música
brasileira. Curiosamente nasceram no mesmo dia, 28 de outubro, dia do
aniversário da minha mãe. Foi uma honra ter feito esse trabalho, e um sonho
realizado.
 
3. Podem ser feitas várias interseções entre o seu trabalho e o de Chico
Buarque. Além de parceiros na composição, vocês já gravaram juntos, como é o
caso de Brecha no disco comemorativo dos seus 15 de carreira e de Amor
Barato, do disco Almanaque de Chico. Além disso, você participou do Songbook
de Chico, gravou A Rita no disco ao vivo. Chico participa do disco Por Todos
os Sonhos, que chega agora às lojas. Como é a sua relação com o Chico?
R- Fraternal, o Chico é um grande amigo. Somos amigos desde 1975. Quem me
apresentou o Chico foi o Toquinho, no Antonio's (um bar famoso da década de
70 no Leblon, Rio de Janeiro). Fomos juntos de lá para o Canecão, onde o
Chico estava fazendo um show com a Bethânia. O que nos aproximou foi o
futebol. Nesta época eu morava em São Paulo, e sempre que vinha ao Rio,
telefonava para o Chico para saber onde era a pelada. Em 1979 houve a
inauguração do "Centro Recreativo Vinicius de Moraes", mais conhecido como "
campo do Chico", onde o Politheama (nosso time) está invicto há 25 anos.
 
4. Fagner também está presente em sua obra. 
Gravaram juntos Nada é em Vão e
agora ele participa do seu novo disco com Motivos Banais. Para você, qual a
importância de Fagner para a música brasileira?
R- A primeira vez que eu ouvi o Fagner cantando, eu me impressionei muito.
Foi no inicio da década de 70. Eu fui com o Maranhão, outro grande
compositor que hoje é conhecido como Chico Maranhão, numa casa em 
São Paulo,
onde estavam reunidos vários artistas cearenses. Que eu me lembre, estavam
Belchior, Roger e Tetti, Pequin, o Jorge Melo (que eu acho que não é
cearence mas andava com eles) e o Raimundo. Depois revi o Fagner num
programa de Televisão dirigido pelo Walter Silva, chamado Misturação. Talvez
fosse o artista com mais sucesso da noite, que teve a participação de
Simone, Nei Matogrosso, Belchior, Pequin, entre outros.Eu cantei uma música
minha que tinha sido finalista de um Festival Universitário da Rede Tupi de
Televisão em 1972.
Em 1973, encontrei com o Fagner em Paris, andando na rua,. Foi ótimo porque
eu estava sozinho e o Fagner já estava mais enturmado e conhecia melhor a
cidade.Em 1974 eu comecei a viver de música, e de lá prá cá, nunca perdemos
o contato. Eu considero o Fagner um grande artista, um dos cantores que eu
mais gosto, e conserva a mesma força, a mesma alegria, o mesmo entusiasmo do
início de carreira. Seu recente trabalho com o Zeca Baleiro é excelente.
Grande show. grande CD.
 
5. Falando de Fagner e Chico, vocês têm em comum a paixão pelo futebol.
Quem é melhor jogador Chico, Fagner ou você?
R- Jogamos em posições diferentes. Os três juntos desequilibram qualquer
pelada.
 
6. O fã clube do Fagner registra uma rara participação sua no disco de
Paulinho Tapajós, intitulado de Amigos e Parceiros, em 1980. Você cantou com
Paulinho a música Nos Cabarés. No mesmo disco, Fagner participou com As
Portas do Meu Sorriso. Você lembra de tal projeto?
R- Claro que sim. Um projeto bonito, fiquei feliz por ter participado.
 
7. O disco Por Todos os Sonhos é o seu segundo disco repleto de
participações. Antes, foi lançado um grande projeto com participações de
Caetano, Chico, Paulinho da Viola, Luiz Melodia, entre outros, em
comemoração aos quinze anos de carreira. Existem paralelos entre os dois
projetos?
R- O primeiro comemorou 15 anos de carreira, "Por todos os sonhos"comemora
30. Mas foi coincidência os dois terem participações.
Para um compositor, é muito gratificante ouvir sua música cantada por
grandes intérpretes. Neste CD, Chico, Alceu e Fagner cantam sozinhos. Com o
Toque de Prima, um dos melhores grupos de samba do Brasil, eu dividi a
faixa.Não posso esquecer da participação fundamental do Cristovão Bastos,
como músico, arranjador e diretor musical do Cd.
No Cd dos 15 anos , trabalhei com vários arranjadores(Guilherme Vergueiro,
Alberto Arantes, Rafael Rabelo, Cláudio Guimarães, Ruy Quaresma) mais
convidados, mais músicos participando, além disso só tinha uma música
inédita, "Modo de ser", que me orgulho de ter como parceiro o Professor
Antonio Cândido de Melo e Souza, uma das pessoas que mais admiro."Por todos
os sonhos" é mais simples, e quase todas as músicas são inéditas. Gosto
muito dos dois projetos.
 
8. Em 2001, você lançou um cd ao vivo, onde regrava alguns dos seus grandes
sucessos, lança inéditas e regrava músicas de grandes compositores da MPB.
Entre as músicas está a da eguinha Kixoxó. Como se deu essa estória da
Kixoxó?
R- Eu sempre gostei de corridas de cavalos. Em 2000 eu reencontrei o meu
amigo de infância Zé Carlos Aranha, proprietário do Bar Mercearia, cuja
filial fica dentro do Jockey Club de São Paulo. Lá, através do Francisco
Ancona Lopez, conheci o Ronco, que como fanático Corinthiano, havia dado
muita força no seu programa "A hora do Ronco" prá minha música ( com J.
Petrolino) "Nação Corinthians", que resultou no Cd produzido pelo
Corinthianíssimo Raul Correia. O Ronco me apresentou o Joca, que tinha um
selo chamado Columbus, e me convidou para gravar esse cd ao vivo.Isto tudo
combinado entre um páreo e outro, em que a gente também sonhava em ter uma
égua nossa correndo.A égua Kixoxó já era famosa antes de existir. Fiz a
música, o Ronco tocou no programa dele, conseguimos a égua com o haras Vale
Verde, Kixoxó ganhou na estréia, sob a direção do Nelito Cunha, e depois
nunca mais. No show, os meus sócios que eram 15, pediram a música, eu cantei
e ela acabou incluída no Cd como faixa bônus.

9. Você é pai da cantora, atriz, apresentadora e hoje símbolo sexual, Dora
Vergueiro. Como você vê as diversas faces artísticas de sua filha? Qual a
sua preferida?
R- A Dora tem realmente vários dons. Alguns ainda pouco explorados. A
compositora e a atriz Dora Vergueiro ainda não apareceram muito. A
apresentadora e a praticante de vários esportes radicais são mais
conhecidas. A cantora Dora está cada vez melhor. Os shows que eu tenho visto
são ótimos. Em Belo Horizonte por exemplo, ele tem um público fidélissimo.
Esta preparando um novo Cd que eu acho que tem tudo para emplacar.Torço
muito pela Dora, sou um pai corujissima, gosto de todas as faces desta
geminiana, mãe da minha neta Catarina.
 
10. Qual a sua relação com a música nordestina? Em seus disco de estréia, a
Dora gravou Na Asa do Vento, de João do Vale. No disco ao vivo, você atacou
com um forró (Forró do amor). Pode-se fazer mais alguma vinculação entre o
seu trabalho e a música nordestina?
R- Gosto muito. O parceiro com quem eu tenho mais músicas é pernambucano (J.
Petrolino). Meus parceiros, Novelli, Garibaldi Otávio, Jaburú, Fernando
Gondim, Albérgio, todos pernambucanos. Paulinho Boca de Cantor, meu parceiro
baiano. Meus grandes amigos João do Vale, com quem fiz alguns shows, Edil
Pacheco, que fez um exelente disco de samba,  Fagner, representando o Ceará,
o João Lyra, um dos maiores violonistas do Brasil, muito bom compositor, e
que participou de 10 faixas desse meu novo CD, que é do Rio Grande do Norte,
adoro João Pessoa, onde fiz 2 shows inesquecíveis no Teatro Paulo Pontes.
Sou fã de forró, de repentes, frevos, e não podemos esquecer que o samba
nasceu na Bahia, e quem não gosta de samba, bom sujeito não é, como diz o
querido Dorival Caymmi.
 
11. Uma das facetas mais interessantes da sua carreira são as parcerias.
Você já fez músicas com praticamente todos os grandes nomes da nossa música,
passando por Vinícius de Morais, Chico,  Adoniran Barbosa, entre
muitos outros. Gostaríamos de saber especificamente de duas das parcerias:
Com Vinícius (é verdade que Por que será? foi composta num momento de crise
da parceria entre Toquinho e Vinícius?) e com Adoniran, com quem você compôs
Torresmo à Milanesa.
R- Pelo contrário, a parceria estava no auge, eu tinha feito Camisa Molhada
com o Toquinho, em alguns shows o Vinícius generosamente me chamava para
cantar, mas fingia, ou fingia que fingia estar com ciúmes. Uma noite, na
casa do Toco em São Paulo, fizemos a 6 mãos o "Por que será".
"Torresmo à milanesa" , Adoniran e eu fizemos de pé, no balcão do antigo bar
"Mutamba", na R. Major Quedinho, lugar muito frequentado por artístas,
jornalistas, boêmios, pois ficava ao lado do prédio onde hoje é o Diário
Popular, que também abrigava a Rádio e o estúdio Eldorado. Esta música me
proporcionou a oportunidade de apresentar a Clementina de Jesus ao Adoniran,
na ocasião da primeira gravação do "Torresmo". Foi no disco da Clementina,
com a participação do Adoniran e minha.
O Adoniran foi parceiro do Vinicius em "Bom dia Tristeza".  Adoniran e
Vinicius são compositores eternos, e amigos de quem eu tenho muitas
saudades.
 
12- Como se faz para contratar um show do Carlinhos Vergueiro?
R- O e.mail do escritório é domaiorproducoes@hotmail.com
A minha empresária é a Maisa (maisaaguiar@uol.com.br) 
Tenho um site que é  /www.carlinhosvergueiro.com.br

 

A página dos Amigos de Fagner agradece ao grande amigo e  colaborador
Geraldo Medeiros Júnior pela elaboração das perguntas, à Raul Corrêa da
Silva
 pela intermediação e à Maisa Aguiar pelo pronto atendimento ao nosso
pedido de entrevista e, é claro, ao Carlinhos Vergueiro.